Resenha: O apanhador no campo de centeio — J. D. Salinger
Holden Caulfield é um adolescente mal humorado que não vê sentido em nada do que é obrigado a fazer e está sempre reclamando de tudo e de todos. Depois de ser expulso da escola ele faz suas malas e decide dar umas voltas pela cidade antes de chegar a hora de ir para casa e ter que enfrentar os pais.
É engraçado como a gente pode começar a ler um livro achando o personagem um saco e depois ir se acostumando tanto a ele a ponto de querer seu amigo. Holden conta sua história pós-expulsão da escola Pensey e vemos um garoto totalmente desiludido com a vida, não de um jeito deprimente — embora ele se sinta deprimido algumas vez — mas de um jeito revoltado, como se ele quisesse gritar: “Para de ser chato, mundo!”
“Esse é um troço que me deixa maluco. Estou sempre dizendo: ‘Muito prazer em conhecê-lo’ para alguém que não tenho nenhum prazer em conhecer. Mas a gente tem que fazer essas coisas para seguir vivendo”. O apanhador no campo de centeio
No meio da leitura fui procurar saber mais sobre o livro e em uma análise um cara dizia que O Apanhador no Campo de Centeio é um livro para ser lido antes dos 20 anos ou ele perderá metade do seu sentido. Eu já tenho meus 23, mas depois desse comentário tentei lê-lo com a mente que eu tinha quando era mais nova e de fato a compreensão sobre o modo como Holden vê as coisas se torna mais clara. Quando adolescentes achamos que a vida é curta demais para estar fazendo todo dia a mesma coisa, como ir à escola por exemplo. Quem nunca quis deixar a sala de aula e sair correndo para uma rotina sem obrigações e responsabilidades?
Holden Caulfield não é um baderneiro típico de escola americana de filme, ele é um garoto que não quer fazer nada por obrigação, sentar em um bar sem perguntarem se ele já é maior de idade e encontrar uma garota bonita, mas inteligente o bastante para não ser igual a todas as outras que ele conhece. Ele também não quer se sentir sozinho e deprimente — como muitas vezes a gente se sente quando é jovem — e morar em lugar que não tenha tantas pessoas chatas e inconvenientes. Ele quer passar mais tempo com a irmã caçula, Phoebe, uma graça de menina, que seu irmão Allie, morto por um câncer, ainda fique vivo na sua memória, e que seu outro irmão, D.B., esqueça esse negócio de escrever filmes em Hollywood — Holden odeia cinema!!
“De qualquer maneira, até que achei bom eles terem inventado a bomba atômica. Se houver outra guerra, vou me sentar bem em cima da droga da bomba. E vou me apresentar como voluntário para fazer isso, juro por Deus que vou”. O apanhador no campo de centeio
O garoto expulso de Pensey não é senão a nossa mente jovem viva, em pessoa, pensando tudo aquilo que a gente pensa sobre as pessoas e as coisas, porém falando e fazendo o que mais é aceitável para a sociedade. Se reconhecer em Holden é inevitável, e fazemos isso enquanto rimos da sua narração que de tão ranzinza chega a ser hilário. É como voltar a passado (se você agora já é “crescido”) e reviver os dilemas adolescentes com outro ponto de vista, mas não necessariamente com outros anseios.
Ah! O título vem de uma canção que em um dos versos fala sobre crianças correndo em um campo de centeio. Em uma conversa com Phoebe, a irmã de Holden pergunta o que ele gostaria de ser — já que ele não gosta de nada — e ele responde que gostaria de ser o apanhador no campo de centeio, aquele que apanha as crianças antes que elas corram em direção ao precipício.
Sobre o autor
Jerome David Salinger (1919–2010) conhecido como J.D. Salinger, nasceu em Nova York, nos Estados Unidos, no dia 1 de janeiro de 1919. Filho de um judeu de origem polonesa e de uma escocesa, viveu sua infância na Park Avenue, em Manhattan. Começou a escrever ainda na escola secundária. A partir de 1940 publicou diversos contos. Estudou durante três anos na Academia Militar de Valley Forge. Em 1942, serviu na Segunda Guerra Mundial. Terminado o conflito, entrou para a Universidade de Columbia.
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